O legado histórico das desigualdades de gênero

Renata Munhoz

COLUNISTA

Doutora em Filologia pela USP, com pós-dou- torado em Linguística.Atua nos ensinos básico e superior, além de cursos preparatórios e português para estrangeiros. Experiência internacional como trainer pelo British Council.Possui certificações e vivências internacionais, como a de Trainer pelo programa Core Skills do British Council. Cria e ministra treinamentos empresariais originais. Autora de textos acadêmicos, científicos e literários.

@profarenatamunhoz

 

O legado histórico das desigualdades de gênero

IMAGEM GERADA POR IA “usando FLUX PRO, sob a direção de J.B Wolf, Criada em 16/03/2025″

No mês das mulheres (março), nada mais importante do que lembrar a questão da desigualdade de gênero. Infelizmente, essa é uma herança histórica enraizada no passado de um Brasil colonizado por valores patriarcais. As ideologias da monarquia e do catolicismo desenharam nossa trajetória de formação cultural e definiram padrões de pensamentos que repercutem em nossos dias atuais.

Por mais que tomemos consciência por meio do desenvolvimento intelectual e tecnológico, ainda persiste a herança histórica, marcada pela subjugação feminina e pela divisão de papéis sociais. Essa manifestação perdura em diversas esferas da sociedade contemporânea como um desafio complexo e multifacetado quanto velado. Isso porque, aparentemente aos olhos de muitos, assim como no Brasil já não há preconceito racial, também já existe a equidade entre os gêneros.

Catolicismo e a trajetória de formação cultural

IMAGEM GERADA POR IA “usando DALLE 3, sob a direção de J.B Wolf, Criada em 16/03/2025″

 

Em termos históricos, o autor Gilberto Freyre evidenciou a construção social da diferença entre homens e mulheres como algo “característico do regime patriarcal”, pois nessa linha de pensamento, seria natural “o homem fazer da mulher uma criatura tão diferente quanto possível. Ele, o sexo forte, ela o fraco; ele o sexo nobre, ela o belo.” (FREYRE, 2002, p.805).

A atribuição dessas características opostas aos gêneros define a dicotomia que contribui para justificar a dominação masculina e a exclusão feminina dos espaços públicos.

Em acréscimo, a historiadora contemporânea Mary Del Priore destaca a centralidade do corpo feminino na história da mulher no período colonial com a manutenção da ordem pela subjugação do trabalho ao “manter o povo

gemendo e produzindo e as mulheres gemendo, produzindo e reproduzindo…” (PRIORE, 1993, p. 333). A subjugação centralizava-se no preceito de que o homem “possuísse” a mulher e tivesse, portanto, o corpo feminino como uma propriedade sua. Sendo assim, natural seria que à mulher coubesse apenas o papel social de reprodutora e de dona de casa. Isso indica que extrapolar a posição de esposa e mãe, com qualquer outra atuação profissional, não foi opção a muitas de nossas antepassadas.

No contexto atual, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2024, 51,2% da população brasileira são mulheres. Apesar de superarem os homens em termos numéricos, as mulheres permanecem enfrentando problemas

no mercado de trabalho, ocupando menos cargos de liderança, sofrendo disparidades salariais e até mesmo assédios moral e sexual. Quanto à diferença salarial, o Brasil fica em 117o lugar, no ranking do Global Gender Report, entre um total de 146 países. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, as mulheres recebem apenas cerca de 77,7% da renda dos homens.

Na política, a representação feminina é ínfima, com ataques a candidatas mulheres e a consequente ocupação de menos cadeiras no Congresso Nacional e em outros cargos políticos. Prova disso é que apenas 17,7% das cadeiras na Câmara dos Deputados e 12,3% no Senado Federal, o que fragiliza a defesa dos seus direitos das mulheres e limita o poder de decisão em termos sociais.

É certo que há avanços recentes em prol das mulheres. Apesar das tantas evoluções sociais, a dicotomia dos gêneros explicita-se no conceito de “misoginia”, entendido como ódio, aversão ou preconceito contra mulheres ou meninas meramente por seu gênero. Esse conceito manifesta-se em comportamentos que variam desde atitudes sutis e naturalizadas até atos de violência deliberada e explícita como a violência doméstica e o feminicídio.

Este texto intenciona apenas pontuar que a desigualdade de gênero permanece como um problema estrutural para o qual se buscam paliativos. Para tanto, não é possível deixar de citar a importância de ações como a Lei Maria da Penha e a atuação local das Delegacias da Mulher, que diariamente recebem denúncias de violência contra a mulher. Tamanho é o problema que a ligação ao número telefônico 180 recebeu 1.558 ligações por dia no ano de 2023.

Oxalá nossos desafios possam ser superados rumo à promoção da igualdade de oportunidades e o respeito aos direitos das mulheres por meio de ações contínuas e coordenadas em diversas áreas, especialmente da educação e da divulgação da cultura de qualidade, a exemplo do que se faz neste jornal!

Por RENATA MUNHOZ

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